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Foto: Freepik
Manda um whats que te respondo!!
Me adiciona no Whatsapp! Manda um whats que te respondo. Melhor criar um grupo e discutimos por lá sobre este assunto... E dá-lhe grupo: grupo de mães de um filho, do outro, do clube, do condomínio, da faculdade, da empresa, e por aí vai.
Quando bem utilizado, o Whatsapp hoje bem representa um dos mais espetaculares meios de comunicação. No entanto, a falta de bom senso de algumas pessoas no uso desta ferramenta, tem gerado uma série de problemas, alguns inclusive, com desdobramentos judiciais.
Aliás, mais do que bom senso, faltam mesmo informação e conhecimento acerca das regras (legais e sociais) que norteiam este ambiente, assim como as interações que nele ocorrem.
Curioso, como algumas pessoas se sentem a vontade com a ferramenta. Falam sobre qualquer assunto sem medir as palavras, ignoram o fato de que uma vez lá escrito, provado, pra sempre lembrado e passível de propagação de alcance imensurável. Nem cogitam a possibilidade de serem mal interpretados e de passarem por mal educados ou intolerantes. Geralmente, pensam estar falando com alguém muito íntimo e quando muito, guardam a certeza de que somente aqueles que daquele grupo fazem parte terão acesso ao conteúdo nele expresso ou compartilhado.
Ora, não vamos nos ater aqui as discussões sobre o uso da criptografia do aplicativo WhatsApp ou quaisquer outros mecanismos que visem "garantir" a segurança do fluxo de dados que trafegam entre usuários em plataformas de comunicação.
Não precisa ser muito esperto para saber que grupos de WhatsApp formados por força das relações estabelecidas entre filhos, seja na escola, no clube, no prédio ou no condomínio, já nascem interceptadas.
Como areia na peneira, todas as informações que nestes grupos trafegam vazam fácil (e muitas vezes, propositalmente). Para uma simples forma diferente de pensar virar caso de polícia é, literalmente, um susto.
Falemos sobre ética, sobre bom senso e mais do que isso, sobre a referência que nós, famílias, representamos na vida de nossos filhos. Como posso ensinar o exercício responsável da liberdade de expressão se minha prática não corresponde ao meu discurso?
Por exemplo, quando se quer dizer:
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“Meu filho sempre volta com dúvidas quando tem aula com a Fulana” e se diz: “a Fulana é uma inútil, ignorante e incompetente”, há de restar caracterizado aqui, o crime de difamação (artigo 139 do Código Penal).
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“Ciclano sempre se esquece de devolver o material que pede emprestado do meu filho” e se diz: “Ciclano está roubando o material do meu filho”, estamos falando de uma possível calúnia (artigo 138 do Código Penal).
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“O valor do passeio que farão com a escola está muito alto” e se diz: “A escola (ou a diretora) deve estar lucrando (e muito) com estas atividades”, podemos estar diante de dois e não apenas um crime: calúnia e difamação.
Vale lembrar que, além da possibilidade de aumento das penas em um terço pelo fato das ofensas terem se dado em meio que facilita a propagação (artigo 141, II do Código Penal), a reparação por prejuízos morais não está restrita à esfera criminal, isto por que, tanto a Constituição Federal (artigo 5° incisos V e X) quanto a legislação civil brasileira (artigos 186 e 927 do Código Civil), conferem ao ofendido, o direito de requerer em juízo, uma indenização por prejuízos morais e materiais que venha a sofrer.
Mas, convenhamos, tão ruim quanto (se não pior), figurar no polo passivo de uma ação por danos morais ajuizada por um pai/mãe de coleguinha, professor ou escola do meu filho, é ter de explicar a ele o que gerou este desdobramento. E ter de dizer que “me esqueci de aprender o que estou tentando ensinar”. É ter de explicar o inexplicável e de confessar que apesar de saber que a liberdade de expressão não é direito absoluto e que nosso direito termina onde começa o do outro, eu falhei.
Fato, as infinitas e constantes oportunidades que as novas tecnologias oferecem nos tornam, por vezes, mais impulsivos, quando então, deveríamos ser muito mais reflexivos, principalmente quando representamos para as novas gerações uma importante referência, seja no papel de pais ou educadores.
Assim, que possamos sempre nos lembrar e “praticar” a frase de Paulo Freire: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.